Acreditar no potencial da ação coletiva é diferencial para novos líderes e para organizações que desejam ressignificar o que é sucesso para os negócios
Você deve se lembrar que, em minha primeira coluna, criei duas situações hipotéticas que ajudam a pintar o cenário de um futuro desejável. Vou recuperá-las aqui:
1º de janeiro de 2030. Uma jovem marroquina acorda para mais um dia de trabalho. Vai até a sua geladeira e se serve de um copo d’água potável em sua casa própria. Após se preparar, pega os equipamentos para a sua bicicleta e se despede dos filhos: “Até a noite. Bom dia na escola, queridos!”. Seu andar é abastecido por energia motora e ainda reduz a emissão de gases poluentes e nocivos ao planeta. Em 2020, eu me levanto para mais um dia de trabalho. Vou até a geladeira da casa da minha mãe, pego o meu café da manhã. Com pressa, me arrumo, pego as chaves de casa e me despeço: “Estou indo, não posso me atrasar. Dia longo hoje, não me espere para o jantar”.
Nessa sequência, vamos falar sobre o papel dos jovens líderes na construção dessa nova agenda e dar exemplos práticos de empresas que têm demonstrado acreditar em um mundo melhor.
“O que é seu, é seu. O que é céu, é nosso!”
Ouvi essa frase durante uma apresentação circense de uma artista de rua chamada K. Além de falar de céu, que tem a minha cor preferida, ela ressoa em mim porque fala do todo. Quando olho para o alto, vejo esse cobertor azul que nos envolve. Quando a mulher marroquina de 2030 olhar para o céu do futuro, ela também verá esse mesmo azul.
O céu ultrapassa o tempo e o espaço. E espero que assim continue. Ele conecta todos nós, independentemente de gênero, cor de pele, condição social ou qualquer outra distinção. Conforme afirmou o ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, “vocês são a primeira geração que pode acabar com a pobreza e a última que pode salvar o meio ambiente”.
Em dez anos, nós, jovens, seremos os líderes no comando das empresas e dos governos. A contagem regressiva da “década de ação” da Agenda 2030 já terá chegado ao fim. A questão que fica no ar é: será preciso a construção de uma nova agenda e o adiamento da vida em um mundo no qual a agenda foi construída e sonhada?
Clarice Lispector disse que “quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza, vai mais longe” – e já comentei em meu texto anterior que embora o poder individual tenha grande potencial de transformação, o coletivo possui poder muito maior de mudança. Ao refletirmos sobre a força da ação coletiva, qual o papel dos líderes e das empresas na construção do futuro que queremos?
Nasce o movimento B
A participação de multinacionais é imprescindível para o sucesso de uma campanha que deseja reformar o capitalismo, ou seja, para que organizações saibam entregar valor não somente para seus acionistas, mas para todas as partes interessadas. Nesse sentido, o movimento B, comunidade na qual lidero no Rio de Janeiro, e empresas como Danone, Laureate Education e Natura estão dando exemplo de como isso pode ser feito.
Em 2006, três amigos criaram o movimento B nos Estados Unidos, com o objetivo de equilibrar o propósito e o lucro das corporações. Afinal, conforme diz o manifesto do movimento, “qual é o sentido de uma economia que cresce financeiramente e que, por sua própria natureza, gera uma desigualdade cada vez maior, acaba com a água e com outros recursos da Terra, aprofunda o individualismo e a exclusão de milhares de pessoas?”.
Desde então, empresas como Natura, Movida, Mãe Terra, Meu Copo Eco, Reserva, Ben & Jerry’s e Danone, a fim de serem certificadas nacional e internacionalmente, se comprometeram a mensurar seu impacto nos seus trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e ambiente. A missão é simples: ser um movimento de pessoas usando empresas como uma força para o bem, ressignificando o conceito de sucesso nos negócios.
“Não é ser a melhor empresa do mundo, e sim a melhor empresa para o mundo”
As empresas B fazem parte de um grupo internacional que visa acelerar uma mudança cultural global e construir uma economia mais inclusiva e sustentável. Tornar-se uma organização certificada significa que apresentar um alto desempenho social e ambiental, ser transparente em suas ações e responsável legalmente para entregar uma combinação perfeita entre lucro e propósito.
De acordo com o B Lab, os problemas mais desafiadores da sociedade não podem ser resolvidos apenas pelo governo e organizações sem fins lucrativos. Assim, a comunidade do B Lab trabalha constantemente para reduzir a desigualdade, alcançar níveis mais baixos de pobreza, promover ambientes mais saudáveis e comunidades mais fortes, e criar mais empregos de alta qualidade, com dignidade e propósito.
Desde a sua fundação, a B Lab já certificou mais de 3.500 empresas em cerca de 70 países. No Brasil, existem mais de 165 empresas certificadas. A empresa B do Rio de Janeiro, Baluarte Cultura, é uma delas. Finalista do Prêmio ODS 2019 do Pacto Global, a Baluarte tem como principal ODS o objetivo 8 (trabalho decente e crescimento econômico), além de estar alinhada também ao ODS 4 (educação de qualidade). Um dos cases de sucesso citado pelo Pacto Global é o Estúdio Escola de Animação da Baluarte, que oferece capacitação profissional gratuita em animação audiovisual para crianças.
Em 2020, uma parceria entre Pacto Global e B Lab resultou na ferramenta SDG Action Manager, online e gratuita, para medir como as empresas influenciam e impactam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A Danone SA, que busca impactar diretamente a erradicação da fome (ODS 2), garantir saúde e bem-estar (ODS 3) e acesso à água potável e saneamento (ODS 6), reconheceu a importância do SDG Action Manager para seu planejamento e o utilizou para tangibilizar e entender o real impacto de suas ações.
Diante dos dados trazidos aqui, o que você pode fazer para o futuro seja aquele que desejamos, menos desigual, mais justo e sustentável? Qual é o seu papel na sociedade, especialmente se você é jovem e deve liderar empresas em breve? Como construir coletivamente o futuro que queremos?
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