Entre investimentos e unicórnios, encontramos disparidades e falta de diversidade. Como estamos posicionados nesse ecossistema que tem cada vez mais notoriedade econômica e visibilidade nos noticiários?
Startup, termo da língua inglesa sem tradução oficial para a língua portuguesa, é uma "empresa emergente" que tem como objetivo desenvolver ou aprimorar um modelo de negócio, preferencialmente escalável, disruptivo e repetível.
No Brasil, nos últimos levantamentos de 2020, temos mais de 13.400 startups mapeadas, um pouco mais de 70 comunidades e milhares de atores públicos e privados, líderes e empreendedores(as) fazendo acontecer pelo país.
Em 2020, São Paulo entrou na última colocação (30º) do Ranking 2020: Top 30 + Runners-up do startup Genome, uma das maiores organizações mundiais que trabalham estudos e dados sobre o ecossistema de startups. E é a única cidade brasileira que compõem a lista, liderada por: Vale do Silício (EUA), Nova York (EUA), Londres (ING), Pequim (CHI) e Boston (EUA).
Em 2021, já listamos um total de 16 unicórnios brasileiros (startups que possuem, cada uma, avaliação de preço de mercado no valor de mais de US$ 1 bilhão), que pautam noticiários no mundo, trazem os holofotes por meio de inovações e revolucionam mercados já consolidados.
Todos esses números são construídos não só por ideias e empresas revolucionárias, mas também a partir de um ecossistema que deve ser propício para novos empreendimentos e principalmente para empreendedores.
Pilares comunitários
Comunidade, por definição, é a totalidade dos organismos vivos que fazem parte do mesmo ecossistema e interagem entre si. Corresponde não apenas à reunião de indivíduos ou sua organização social, mas também ao nível mais elevado de complexidade de um ecossistema. Os membros das comunidades compartilham valores, ações, experiências e, principalmente, vontade de transformar e melhorar realidades.
No mundo do empreendedorismo não é diferente, as comunidades de startups têm o propósito de fomentar e apoiar empreendedores(as) em toda a sua jornada e fazem isso com maestria, compartilhando, conectando e acreditando que é possível mudar seu ecossistema através do empreendedorismo.
De acordo com Brad Feld, em “Startup Communites”, existem seis pilares que sustentam uma comunidade de startups: governo; acesso a capital; cultura; suporte; talento e acesso a mercado.
Compreendendo a função de cada pilar, é possível criar ações integradas dentro das comunidades que permitam o surgimento de novas oportunidades para as startups. Entenda um pouco mais sobre cada pilar e alguns exemplos:
Ambiente regulatório (governo): com a criação de leis e incentivos fiscais que beneficiam o empreendedor (como a Lei do Bem), programas de parcerias público-privado, programas de investimentos (um bom exemplo é o Programa Centelha), programas de aceleração e capacitação (como o InovAtiva Brasil) e com a disponibilização de estruturas físicas (como incubadoras);
Acesso a capital: interação com investidores-anjo, venture capitals, fundos de investimento, crédito com baixos juros, fundações de amparo com editais de incentivos econômicos;
Suporte: auxílio em áreas como marketing, jurídico, contábil e, até mesmo, estrutural, com o objetivo de ajudar o empreendimento a prosperar. Comum em casos de startups que estão em fases iniciais e contam com uma equipe de até três pessoas técnicas em uma área específica;
Cultura: criação e manutenção de eventos que abordem empreendedorismo e startups. Além das oportunidades de networking, é possível entender as necessidades da comunidade e ativar mídias que tragam visibilidade aos empreendedores e seus negócios. Também permite trazer casos de sucesso e a criar referências saudáveis para que os membros possam aprender e trocar experiências;
Talentos: de onde vem ou como se capacitam os integrantes de uma startup. Universidades, institutos federais, centros profissionalizantes ou, até mesmo, a internet. É importante ressaltar que muitas funções dentro de uma startup são tão novas que ainda não são ensinadas em faculdades ou universidades;
Acesso a mercado: onde estão os primeiros clientes, é de onde as startups tiram ideias para aperfeiçoar ou abandonar uma tecnologia. Em um primeiro momento, pode ser um mercado local, até que a startup ganhe tração e consiga expandir de maneira regional, nacional ou até internacional.
Brasil: disparidades e diversidade
Em 2020, a Abstartups (Associação Brasileira de Startups) mapeou mais de 70 comunidades de startups espalhados pelo Brasil, o resultado do diagnóstico dos ecossistemas analisando esses pilares foi:
Apesar de termos resultados médios que parecem interessantes, temos uma grande disparidade entre os resultados dos ecossistemas em grandes centros (São Paulo, Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte) e ecossistemas mais afastados e no interior do Brasil.
Quando analisamos resultados ligados à diversidade temos resultados mais alarmantes. Segundo o Mapeamento de Comunidades 2020 (Abstartups), cerca de 26,6% de startups em todo o Brasil não possuem nenhuma mulher na sua equipe, apenas 5,8% dos founders no Brasil são negros e 12,6% são mulheres. Além disso, apenas 4,5% de startups empregam pessoas transexuais e 6,7% pessoas com deficiência (PCD).
Em contraste a esses números, 87,7% das startups dizem apoiar a pauta da diversidade. O que nos mostra a importância de ações concretas que geram resultados, não só em discursos de diversidade.
Todos esses dados nos levam a algumas reflexões:
Como estamos criando e organizando nosso ecossistema de startups? Toda essa inovação gera resultados para quem?
Estamos levando investimentos para ecossistemas que precisam ou para ecossistemas que têm mais visibilidade?
Conseguimos mostrar um Brasil diverso, inovador e que mostra as riquezas que têm do Sul ao Norte através das startups?
O que estamos fazendo geram resultados efetivos ou são apenas discursos e um bom marketing?
Como eu, pessoa física e/ou jurídica, posso apoiar algum dos pilares para melhorar meu ecossistema?
REFLEXÕES A SEREM ENCARADAS
Perguntas sem respostas prontas e sem respostas simples. No entanto, são questões que podem nos fazer evoluir não só no número de unicórnios e exits, mas também no combate às desigualdades e mostrar um Brasil rico não só em dinheiro.
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